Por Eric Costa e Silva
Aos
sons das modas apaixonadas dos encantos. O
poeta canta os fados de sua vida guerreira de alma clerical,
fervoroso ele caminha rumo a tão esperada fonte paladina da eterna
força, essa
brota dos meandros das antiguidades, seus relatos de curas de corpos
e espíritos são passados de gerações a gerações, tal qual a
magia das mais belas linhas dum livro repleto de segredos.
A
ansiedade de chegar faz o poeta tomar uma dose diária de algumas
pílulas, elas fomentam dentro de seu corpo e em alguns instantes
impedem ele de distinguir as belezas mínimas apresentadas no
firmamento meio cor de esperança exposto na paisagem aparente deste
frondoso dia de
sábado.
Longos
passos após passos, seus pés em estados latentes, a ponto de formar
grandes e dolorosas
bolhas tomam forma dos espaços das suas visões que não mais
fundamentam os estandartes das vontades passadas de poder ele
comunicar aos pássaros os longos dias da chegada do terceiro
milênio.
Os
caminhos da sua vida os fazem perceber uma linda aurora mística e
mítica a cobrir as vontades das contadas nuvens, e o seu nariz
aponta para a marca valorosa da arquitetura das belas casas, nelas
saltam aos olhos os magníficos florões de ouro nas portas, elas
demonstram
o extremo poder erguido pelas mãos dos povos da longínqua África,
e nele dói a lembrança deste período, onde existia a negação do
bem da liberdade e a esperança se punha na fuga ou na compra de sua
própria vida.
Ao
descer uma rua íngreme, logo à frente o poeta sente nos olhos a
territorialização da praça dos Justos, mesmo estando a certa
distância o ar calmo
e sedento de explicações por
ele é tomada pela
presença mágica da tão esperada fonte e o poeta vê seus pelos
arrepiarem,
isso o
faz tirar
seu último folego para que o mesmo corra
para junto desta maravilha antiga.
Ao
chegar mais
perto a
chuva fina envolve gota a gota todo o seu corpo físico e mental,
delas pairam o som das belas lembranças do tempo onde ganhara um dia
a vida a declamar poesias de sua própria lavra. Nesses
dias acordava
cedo, pegava sua cartola e partia para a rua do ouvidor e com o
passar das horas alguns trocados eram dados a ele pelas
mãos de sensíveis seres, todos encantados com a magia das palavras
postas em união carnal com sua voz rouca a ecoar no correto
azul-turquesa.
Agora
chegado à fonte o poeta relembra o rosto angelical da amada, jovem
de sinceridade infindável com um sorriso brando, mas este amor
platônico nunca terá na realidade um bom final, pois entre eles
existe um enorme abismo Histórico material, de um lado a pobreza
econômica do poeta e do lado da linda jovem, uma riqueza imensa
cheia de conveniências, estas resultados de séculos de rapina
familiar das explorações das vidas alheias e do próprio modo
arcaico de deixar outrem nas
margens cativas.
E
a fonte sacia os tempos onde seus passos não viram a água, ela
também lhe dá uma força fenomenal, força que vem apontar as
coisas que ele já sabia, a água abre a sua mente e o faz ver que
apenas em sonho terá a sua princesa arrogante
nos
braços, ou apenas
nas
suas poesias ela poderá beijar sua boca.
Jogado
dentro da fonte de
gole a goles
tomados pela cuia de sua própria mão, o
poeta procura aumentar a sua coragem, depois de algumas
doses
ingeridas
em demasia a sua barriga já não mais aguenta
tanta água milagrosa e como ela faz efeito rápido e
a sua consciência imaterial, agora o
convence de voltar a viver no palco do anonimato dos seus sentimentos
tão profundos.
Com
os sentimentos voando no espaço o poeta caí ao solo e
ao olhar para o céu, vê pela primeira vez a lua tomar formas de
desenhos, onde ele e sua amada vão ao altar, dali também se observa
a grandeza de cinco grandes homens, tal qual a imagem de seres que
um dia foram derrotados, mas não
deixaram de lado o seu semblante imponente, uma criança de cinco
anos traz nas suas mãos a bandeira e o facão, enquanto
o astro-rei, já tenta no horizonte quebrar os primeiros véus da
alvorada.
Ao
lado da fonte, de seu corpo nasce uma ardente tocha da vontade
humana, agora basta a esperança dele acordar do prejudicial desmaio
e que
Deus
ajude o pobre a encontrar alguém no seu caminho, quem sabe ela, quem
sabe outra nova, quem sabe uma nova poesia donde se possa ver
florescer mais uma vez seu grande sentimento de liberdade aliado a
compreensão da paisagem exposta junto da fonte inesquecível.
Mais
o poeta não volta de seu desmaio e seu corpo é envolvido pelas mãos
dos mais belos anjos, eles o levam ao paraíso e lá ele não precisa
mais amar uma só mulher, agora tem ele o trabalho de amar e proteger
todos que no mundo necessitem desta benção. Pois
ele mesmo agora é querubim a proteger os outros poetas, dos quais um
dia partirão na busca da fonte paladina.