Por Eric Costa e Silva
Uma
pausa inicial para uma consideração, sempre sonhei em ser
jornalista, mas as situações da vida, nunca aviam deixado o mesmo
se apoderar de meus dias. Porém, o ano é o de 2010, uma bolsa por
mérito no Programa Universidade Para Todos, tenho uma boa História
com esse programa, desde os anos que era apenas um querer, mas a
bolsa me deixava feliz.
Para
ser mais exato, estávamos em finais de Março de 2010, com o
indicativo de um trabalho de tipos e enfoques de reportagens
televisivas, solicitado pela Professora Ágatha Urzedo, fez com que
revira-se os arquivos de um computador velhinho e de anotações
antigas de prováveis trabalhos de conclusão de curso de Geografia
da FCT-UNESP.
Estava
em busca daquilo que poderia ser uma pauta, a intuição da
prevalência me fazia crer, estávamos em vias de um fato marcante, é
o que muitos chamam de faro de notícia.
Dali
tirei a força motriz para anotações de lugares onde ocorreu na
História recente, ocupações de áreas antes destinadas a aterros
sanitários para formação de comunidades (as comumente favelas), em
especial, as do Estado do Rio de Janeiro.
A
aula de apresentação e susto
Naquela
noite a aula transcorreu com especial atenção de todos os alunos
presentes, talvez devido ao chamado “toque” de que a matéria a
ser estudada seria de vital importância para um trabalho com
obtenção de nota parcial da disciplina.
Longas
explicações pontuais e chega a derradeira hora de ter mais uma vez
que batalhar um parceiro de trabalho, grupos sendo formados e tenho a
grata satisfação de combinar participação com Marcelo Martins,
aula terminada e começamos a conversa sobre o trabalho ali mesmo,
como dito, já sabíamos do mesmo por meio da ementa.
O
poeta olha profundamente nos olhos do parceiro de trabalho, olha para
a mesa e a notável Professora Ágatha Urzedo arrumava seus materiais
de aula.
Eis
então, quando sem parcimônia, o poeta com voz firme fala ao seu
amigo. Isso é em off, devo lembrar, não deve ser publicado. Vamos
dar um jeito para pegar o vídeo sob o deslisamento do moro do Bumba.
Como
de costume, Marcelo interrompe e avalia que devemos apurar a data
para a busca ser mais facilitada.
Daí
a surpresa, o poeta poente com mais uma vez em tom firme diz,
acontecerá em tempo, ainda não rolou, mas vai rolar antes do
seminário acontecer.
O
sorriso de Marcelo só é coberto pelo rosto que aprendi a reconhecer
a muito tempo, o rosto misto de surpresa e de quem se depará com
algo, meio considerado como verossímil.
Os
dois se encaminham para a porta e o poeta poente pergunta, vai rolar,
fazer! Marcelo com tom de despreocupação, comum para seus dias,
diz, você está louco? Virou vidente?
O
poeta frange pela primeira vez a testa com o amigo e solta um eterno,
vamos ver, a História desses dias me absolverá de seu insulto e
ponderou, vamos fazer sim!
Nessa
hora as pequenas e grandes, Stefany Souza e Aline Ceolin passam pelo
corredor, bem perto a porta. Minha primeira constatação de curso a
ponderar, eu mesmo as pessoas não querendo, começava a ser escutado
e Stefany olha com um semblante maroto e diz, vou fazer também.
Game
Over no Bumba:
A
tragédia do moro do Bumba ocorre por volta de 8 horas da noite sob
os olhos de ponderações e muita cobertura dos veículos de mídia,
a
área já foi um depósito de lixo há 50 anos, naquele
momento apenas conseguia acompanhar pelos dias a dor das famílias
que perderam entes queridos, a dor deles de certa forma também era a
minha. Toneladas de lixo em decomposição vieram a baixo, deixando
um rastro enorme e engolindo um sem fim de vidas, cerca de 50 casas
envolvidas no deslisamento, segundo a defesa civil.
O
deslisamento como sabemos matou 267
pessoas, minha
História de vida, muito se aprendeu a contar mortos, muitas vezes
não consegui lidar com isso e sofri consequências de
desestabilização emocional. Com o bater de um sino a um colega de
profissão, aqui não cabe divulgar a conversa, mas sim o toque do
sino eternizado pela entrevista de Fátima Bernardes, de volta a
externas depois de muitos anos, entrevista a pequena e já madura
Laura
Beatiz, 8 anos. A
tristeza e a amrgura se dão num misto de uma superação nas
palavras da menina, ela mesmo diz, no fim da entrevista, vou seguir
minha vida em frente, qualquer outra criança estaria abalada de mais
para falar, depois de ser carregada pelo lixo até bater a cabeça no
muro e ser encontrada pelo Pai.
O
Seminário e as Apresentações
A
tragédia de Abril de 2010 foi tema principal de todos os seminários
e em todos a entrevista de Laura estava presente e a cada uma delas
apresentada, eu voltada meu olhar para a Professora Ágatha, como
quem desejava não ver aquilo na História, mas com um misto do faro
de prevalência intuitiva estar apurado.
Quando
vi a Professora, tirar seus óculos e levar as mãos aos olhos, com
intuito de segurar as lágrimas, essas também as foram de todas as
pessoas, uma a uma que apresentavam o trabalho com o conteúdo, no
qual para todos, foi uma tragédia anunciada.
Mande
Notícias Laurinha e todos os amigos, colegas e profissionais que se
lembrem de partes dessa História.